HENRY MATISSE - A dança, 1910
tela 2,60 x 3,90 m
Leningrado, Museu Ermitag
(Giulio Carlo Argan, Pg 259, ARTE MODERNA)
tela 2,60 x 3,90 m
Leningrado, Museu Ermitag
"[...] Esta grande composição, uma das maiores obras-primas de nosso século, é a resposta serena, mas decididamente negativa, de MATISSE ao Cubismo triunfante. A arte ( parece ele dizer ) ainda pode penetrar as verdades suprema s do ser , as infinitas harmonias do Universo - é talvez a única atividade humana que ainda pode faze-lo, e as perspectivas positivistas práticas da sociedade contemporânea não podem impedi-lo. O quadro tem um significado mítico-cósmico: o solo é o horizonte terrestre, a curva do mundo; o céu tem a profundidade do azul-turquesa dos espaços interestelares; as figuras dançam como gigantes entre a terra e o firmamento. Ao Cubismo que analisa racionalmente o objeto, Matisse contrapõe a intuição sintética do todo. É este precisamente o quadro da síntese, da máxima complexidade expressa com a máxima simplicidade. É a síntese das artes. A música e a poesia confluem na pintura, e a pintura é concebida como uma arquitetura de elementos em tensão no espaço aberto; é síntese entre a representação e a decoração, símbolo e realidade corpórea, entre o volume, a linha e cor. Todavia, a síntese ainda pode ser um cálculo racional; é preciso ir além, identificá-la como uma beleza nunca vista e quase monstruosa, sobrenatural, para além dos diferentes naturalismos do belo clássico e do belo romântico. E deve ser um belo que também abarque e resolva em si o seu contrário, o feio, pois um belo que tivesse um contrário não seria universal: o mesmo módulo de beleza deve valer para as figuras, a terra e céu. Portanto, o belo não pode ser uma forma finita, e sim contínua e rítmica: as figuras se alongam e se dobram no ritmo que as transformam, e a sua beleza, cósmica e não física, não se dissocia da beleza do espaço em que se movem. Assim como não pode haver um equilíbrio estático, não pode haver um ritmo regular e uniforme; o ritmo deve se gerar no quadro (veja-se o pé de uma das figuras que calca a terra, como se esta fosse elástica, e o círculo sempre interrompido e o retomado dos braços) e ascender progressivamente a um clímax de máxima intensidade, levando todos os valores (cores e linhas) a um vértice onde pode ser captado apenas por uma sensibilidade estimulada além de seus próprios limites. Matisse, agora, opera para além de todos os registros, de todas as gamas, de todas as combinações a que o olhar humano está acostumado pela experiência da natureza: na dimensão ultra-sensível, mas não transcendente, das ultracores. Tal era sua intenção ; prova-o uma carta, em que afirma ter procurado "para o céu um belo azul, o mais azul dos azuis (a superfície é pintada até a saturação, vale dizer, até um pouco em que finalmente emerge o azul, a idéia do azul absoluto), e o mesmo vale para o verde da terra, para o vermelhão vibrante dos corpos. "
(Giulio Carlo Argan, Pg 259, ARTE MODERNA)
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